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O fim da Coluna Travada

Quando alguém chega em meu consultório com a coluna travada, antes de fazer o levantamento do seu histórico de saúde, minha primeira atitude é ser empático. Isso porque sei que esse paciente não está só. Afinal, ter dor nas costas é uma das razões mais comuns pelas quais as pessoas procuram ajuda médica, especialmente o pronto socorro, além de ser a causa mais frequente das faltas no trabalho.

A literatura médica sobre o assunto revela que 23% de toda a população do mundo sofre com esse problema de forma crônica e que, ao longo da vida, mais de 8 em cada 10 adultos do globo poderão apresentar o sintoma. E não escapam dessas estatísticas nem mesmo as crianças, os adolescentes e jovens. Aliás, aos 18 e 20 anos, metade das mulheres e dos homens, respectivamente, já terão passado por algum episódio desse tipo.

Para entender porque a dor lombar (lombalgia) ou cervical aparecem, antes, explico ao meu paciente um pouco da anatomia de sua coluna vertebral. Na maioria das vezes, a região lombar é a parte mais afetada. E ela é formada por cinco vértebras – conhecidas como L1-L5, cuja função é dar suporte ao tronco. No espaço existente entre cada uma dessas vértebras existem estruturas – os discos intervertebrais – que agem como “amortecedores” de todo movimento que a sua coluna faz.

As vértebras são mantidas no lugar por meio dos ligamentos e tendões que conectam os músculos à coluna. A região também possui 31 pares de nervos que estão enraizados na medula espinhal. Eles mantêm os movimentos sob controle e ainda enviam sinais do seu corpo para o cérebro. A coluna ainda é composta do segmentos cervical (pescoço), torácico (parte superior das costas), sacral e coccígea (parte inferior da região lombar).

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Dor Aguda x Crônica

Compreender melhor as estruturas do seu corpo ajuda a melhor relatar as características da sua dor para o médico. No caso da lombalgia e da dor cervical, os incômodos podem variar de intensidade e duração no tempo.

Por vezes aparecerão de repente, imediatamente após um movimento brusco ou o levantamento de algum peso, ou poderão durar por alguns dias e até semanas. A esse tipo de dor chamamos de aguda – a mais frequente.

Mas pode acontecer de a dor durar por 12 semanas ou mais – a esta chamamos de dor crônica. O mesmo se dará para 2 em cada 10 indivíduos com dor aguda persistente ao longo de 1 ano.

Justo eu?

Na hora da crise, porém, as pessoas querem logo saber o que fizeram de errado e como podem resolver rapidamente o problema. Então explico que a presença de determinados fatores podem aumentar a chance de ter uma lombalgia. Saiba quais são eles:

Genética – enfermidades como a espondilite anquilosante e doenças reumatológica têm componentes genéticos;
Idade – as primeiras crises podem ocorrer entre 30 e 50 anos; com o avanço da idade, ossos, músculos, discos também passam por processos degenerativos que podem levar ao problema;
Condicionamento físico – sedentários têm maiores chances de ter dor nas costas, assim como os atletas de fim-de-semana;
Peso – obesidade e ganho rápido de peso podem colocar a coluna sob maior pressão;
Saúde mental – ansiedade e depressão se relacionam à dor crônica e geram tensão muscular;
Emoções – variações de humor e depressão influencia na forma como se percebe a dor;
Atividade profissional – má postura e manejo de peso se relacionam à dor nas costas;
Tabaco – provoca rápida degeneração dos discos, dada a restrição de circulação sanguínea e  fluxo de oxigênio.

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Possíveis origens da dor lombar

Ela pode ter causas variadas. Entretanto, na maioria das vezes, as principais são de origem mecânica, que se relacionam a algum problema na estrutura local que compreende coluna, discos, músculos e nervos. Confira a seguir:

Problemas congênitos  –  escoliose, lordose, cifose etc.;
Lesões entorses, estiramento de músculos ou nervos, contrações repentinas, traumas decorrentes da prática de esportes, acidentes, quedas que comprometam tendões, ligamentos e músculos ou provoquem a compressão da coluna ou ruptura de discos;
Problemas degenerativos  – desgaste natural dos discos, espondilose, artrite ou outras doenças inflamatórias;
Problemas nos nervos ou medula espinhal  –  compressão, inflamação ou lesão no nervo espinhal; compressão do nervo ciático; estenose espinhal; espondilolistese; hérnia de disco; infecções (p.ex. osteomielite); osteoporose etc.

Pode até ocorrer de a dor não ter origem nessas estruturas. Nesses casos, a fonte do problema poderiam ser pedras nos rins, endometriose, fibromialgia, tumores e até mesmo gravidez.

Entenda a Hérnia de disco

Quando o anel fibroso enfraquece, seja pela degeneração natural decorrente do processo do envelhecimento, ou mesmo por alguma falha genética, a hérnia aparece, geralmente na região lombar.

São duas as situações possíveis nesses casos, e ambas levam à compressão da raiz nervosa local: trata-se da protrusão e da extrusão. Na primeira, o núcleo pulposo causa um abaulamento e pressiona o anel fibroso (imagine um pneu com uma bolha); na segunda, o anel fibroso rompe o seu conteúdo, que extravasa (a bolha do pneu se rompe e se espalha).

A conversa com o médico

Sanguíneos – podem revelar infecções, artrite, inflamação, tumores etc.;
Radiografia – auxilia na detecção de fratura, desgaste e até sinais de infecção óssea; Discografia – essa radiografia avalia as dondições gerais dos discos vertebrais;
Eletromiografia (EMG) – analisa a atividade elétrica de músculos para saber se a fraqueza deles decorre dos nervos que os controlam;
Tomografia computadorizada – mais potente que a radiografia, mostra rupturas no disco, estenose e até tumores;
Ressonância magnética – recria a imagem das estruturas ósseas, músculos, ligamentos, tendões e vasos. É útil quando há suspeita de infecção, tumor, hérnia,ruptura de disco ou pressão sobre nervos.

De volta à vida normal

Enquanto a dor é intensa, fica difícil acreditar que essa sensação vai passar. Pois saiba que é a ciência que garante: em 80%-90% dos casos, a melhora se dará em até 6 semanas, exceção feita para as complicações.

Quando a dor é aguda, o repouso é contraindicado e geralmente lança-se mão das seguintes estratégias:

Medicamentos  –  analgésicos, anti-inflamatórios não esteroidais (AINES), relaxantes musculares, medicações tópicas como cremes ou pomadas para alívio da dor local. Embora elas aliviem a dor, sozinhos não têm eficácia.
Compressas  –   quente ou fria, ela reduzem a dor e também a inflamação;
Exercícios  –  os de alongamento moderado são aliados, desde que orientados por um fisioterapeuta.


Já se a dor é crônica…

… o tratamento deve, antes, concentrar-se na causa original da dor. Em geral, os melhores resultados são obtidos com a atuação de uma equipe multidisciplinar que deve trabalhar em conjunto para reduzir a dor, ou mesmo o uso de medicamentos. Na maioria das vezes, o grupo atua de forma progressivo, implementando soluções desde as mais simples até as agressivas, a depender de cada caso. Confira:

Medicamentos – anti-inflamatórios (AINES) e analgésicos; analgésicos mais potentes; anticonvulsivos; antidepressivos;
Exercícios – é indicada atividademoderada para fortalecimento do tronco e dos músculos abdominais, desde que devidamente orientados pelo médico ou fisioterapeuta;
Acupuntura  –  a estratégia é recomendada pela Sociedade Americana da Dor e pelo Colégio Americano de Médicos, especialmente quando os pacientes não respondem às práticas caseiras. É considerada efetiva para o controle da dor, já que estimula naturalmente a ação de substâncias analgésicas como a endorfina e a serotonina;
Estimulação Elétrica Transcutânea dos Nervos (TENS): trata-se de um aparelho usado pelos fisioterapeutas para bloquear ou modificar a percepção da dor. Aliás, a fisioterapia é um dos pilares do tratamento da dor lombar;
Cirurgia – prática rara, ela só se justifica quando não há resposta às intervenções anteriores, na presença de danos neurológicos, fraqueza, alteração do controle dos esfícnteres ou no aumento da movimentação de duas vértebras que gera instabilidade (espondilolistese). Em alguns casos, técnicas minimamente invasivas para infiltração de medicamentos (corticóides e anestésicos) podem ser feitas em ambientes hospitalares, até mesmo entre idosos.

Quando a “travada” for na região cerviccal

Muitas vezes, a dor que impede os movimentos acomete a região cervical. Diferentemente da dor lombar, a origem desse desconforto pode estar em algum músculo, ou no tecido que o reveste – a fáscia.

Dada as características desse quadro, que pode se manifestar em várias partes do corpo, mas também em uma região específica, ele é definido como Síndrome da dor miofascial. Nessa parte da coluna, os músculos envolvidos podem ser os rombóides, o trapézio, a escápula, o infraespinhal e supraespinhal.

Tão comum quanto a dor lombar, ela está presente em 8 entre cada 10 pacientes com dor crônica, principalmente na faixa etária que compreende os 30-40 anos, sejam eles homens ou mulheres, embora estas sejam as mais afetadas. A boa notícia é que, com o envelhecimento, essas crises vão se tornando cada vez menos frequentes.

Ainda não está totalmente esclarecida a causa dessa síndrome. O que sabemos, até o momento, é que ela decorre da má postura, do esforço excessivo, trauma, lesão e até mesmo mudanças posturais bruscas. Um exemplo prático são acidentes de carro, movimentos repetitivos e ergonomia deficiente no ambiente profissional.

Outro dado importante é que algumas pessoas são mais propensas a ter esses pontos de dor quando possuem contraturas das bandas musculares, que podem permanecer latentes até que alguns dos fatores desencadeantes citados apareçam.

A literatura mais atual sobre o assunto revela que há indícios de que esses pacientes tenham níveis aumentados de um neurotransmissor relacionado à dor, a acetilcolina. Tal particularidade levaria à tensão muscular e à formação de “nós” que comprimem os vasos sanguíneos, estimulando a dor.

Alívio da dor cervical

Assim como no tratamento da dor lombar, o alívio da dor cervical, bem como o espaçamento das eventuais crises requerem a combinação de várias práticas, além da colaboração do paciente que deve investir em atividade física e maior atenção à postura. Importante saber que tais iniciativas só fazem o efeito quando realizadas de forma regular e sincronizada. Além disso, a estratégia terapêutica prevê o uso dos mesmos medicamentos usados para a dor lombar, incluída apenas a utilização da toxina botulínica, que é capaz de inibir as contraturas.  

Uma recente revisão de estudos sobre as melhores opções terapêuticas para esse quadro colocou a acupuntura e a fisioterapia na base do plano terapêutico. A primeira se destaca em razão dos provados benefícios para o alívio da dor; já a segunda contribui com a técnica de liberação miofascial, exercícios de fortalecimento e alongamento que restauram o equilíbrio muscular, inclusive das áreas circundantes. O ultrassom e o laser também se apresentam como abordagens promissoras. A pesquisa foi publicada na revista médica Pain and Therapy.

Um conselho médico

Meus pacientes sempre me perguntam o que devem fazer para prevenir esses episódios tão dolorosos e incapacitantes. A minha resposta é sempre a mesma: a sua primeira providência é um não fazer. Isso porque a melhor forma de prevenir a dor é não ignorá-la e procurar ajuda médica.

Quanto mais cedo você tiver orientação e apoio profissionais, maiores são as chances de se livrar desse incômodo. Se não para sempre, por longo período de tempo.

Sugiro também que se coloque em prática as seguintes medidas:

Considere parar de fumar. O tabaco está relacionado à degeneração discal, além de aumentar o risco para a osteoporose. Até a tosse decorrente do cigarro agrava a dor lombar;

Exercite-se regularmente e de acordo com sua idade. O foco deve ser o fortalecimento da musculatura das costas e do abdome. Exercícios de alongamentos são também indicados;

Controle o peso e mantenha uma dieta saudável rica em cálcio, fósforo e vitamina D para fortalecer os ossos;

Invista em móveis ergonômicos em casa ou no trabalho;

Mude de posição na cadeira durante o trabalho, levante-se e alongue-se a cada 1 hora.. Suporte para os pés abaixo da mesa são recomendados, especialmente quando se trabalha por longo tempo na posição sentado;

Use sapatos confortáveis e evite saltos muito altos;

Tente dormir na posição fetal, com o apoio de um travesseiro entre as pernas. Isso alivia a pressão sobre as vértebras;

Prefira colchões firmes;

Atente-se à forma como levanta peso: você deve flexionar os joelhos, usar a força das coxas e manter o objeto próximo ao corpo. Evite manter a perna reta e flexionar a coluna.

Referências: Ministério da Saúde;NHI (National Center for Complementary and Integrative Health);  Low Back Pain, NHI (National Institute of Neurological Disorders and Stroke), 2020; Jeffrey Touma et alii. Cervical Myofascial Pain. StatPearls. NCBI. 2020; Amir Qaseem et alii. Noninvasive Treatments for Acute, Subacute, and Chronic Low Back Pain: A Clinical Practice Guideline From the American College of Physicians. Ann Intern Med., 2017; Lizhou Liu et alii. Acupuncture for Low Back Pain: An Overview of Systematic Reviews. Evid- Based Compl Alt. 2015; Kamper SJ, Apeldoorn AT et alii. Multidisciplinary treatment for back pain. Cochrane. 2014.

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Médico especialista em Acupuntura, formado pela Faculdade de Medicina da USP, com especialização e pós-graduação em Acupuntura na China. Fundador e Coordenador do CEIMEC. Doutorado em Ciências pela USP. Professor Colaborador do Instituto de Ortopedia do HC-FMUSP.

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Especialização em Acupuntura Médica

Reconhecida pelo Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura 

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